26/03/2009
- Por L&PM Editores
O livro Operação Condor – O seqüestro dos uruguaios, do jornalista Luiz Cláudio Cunha, foi indicado como livre du jour (livro do dia) pelo site da revista francesa Books Magazine.
Lançado em novembro de 2008, O seqüestro dos uruguaios já está em sua segunda edição. O livro conta detalhes inéditos da arriscada e impressionante aventura jornalística que testemunhou um dos episódios mais emblemáticos da ditadura militar: o seqüestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, há mais de 30 anos, em Porto Alegre.
A matéria intitulada "O Brasil reexamina o seu passado" destaca que Cunha "não se contenta em somente identificar os homens armados que estavam na sala do apartamento de Lilian Celiberti e Universindo Diaz naquela sexta-feira. Na busca por compreender a posição brasileira neste vasto caso, ele acaba revelando detalhes sombrios".
Confira a matéria na íntegra:
O Brasil reexamina o seu passado
No dia 17 de novembro de 1978, LCC, repórter da Veja, revista semanal brasileira, apertou a campainha de um apartamento no número 110 da rua Botafogo. Era lá que viviam Lílian Celiberti, militante da esquerda uruguaia, e seu companheiro de luta Universindo Diaz. "Quando a porta se abriu, o jornalista se viu imobilizado por cinco militares brasileiros e uruguaios, com o cano de um revólver grudado a sua cabeça"', conta Gabriel Manzano Filho no jornal paulista O Estado de S. Paulo. Lilian Celiberti e Universindo Diaz foram levados pelos militares até as masmorras uruguaias, com os seus dois filhos pequenos. Ninguém voltou a vê-los. Trinta anos depois, LCC decidiu contar, em Operação Condor, todos os fatos dos quais foi testemunha.
Operação Condor? É o nome dado a uma operação anti-guerrilha levada a efeito conjuntamente pelos serviços secretos de seis paises da América Latina contra os movimentos de esquerda em meados dos anos 1970. As ditaduras militares de Pinochet (Chile), de Jorge Rafael Videla (Argentina), de Ernesto Geisel (Brasil), de Hugo Banzer Suárez (Bolívia), de Juan María Bordaberry (Uruguai) e de Alfredo Stroessner (Paraguai) enviaram agentes em perseguição aos seus opositores políticos até na Europa e Estados Unidos. As partes 1 e 2 do plano previam a troca de informações e de prisioneiros. A parte 3 previa assassinatos e culminou com a execução de Orlando Letellier, antigo ministro de Salvador Allende, em setembro de 1976 em Washington. Com os afogamentos praticados por meio dos “vôos da morte” sobre o Rio da Prata, os desaparecidos se contam às dezenas de milhares.
Em Operação Condor – O seqüestro dos uruguaios, Cunha não se contenta em somente identificar os homens armados que estavam na sala do apartamento de Lílian Celiberti e Universindo Diaz naquela sexta-feira. Na busca por compreender a posição brasileira neste vasto caso, ele acaba revelando detalhes sombrios. "Por que o Brasil abriu mão de sua soberania, deixando que policiais estrangeiros entrassem em seu território e permitindo que pessoas sob a proteção de suas leis fossem capturadas e seqüestradas ?", se pergunta Gabriel Manzano Filho. "Pois, se naquela época o Chile e o Uruguai estavam no auge da sua repressão anticomunista, o Brasil se preparava para, enfim, virar a página do regime militar". Quando da adoção da Operação Condor, o Brasil concordou com as partes 1 e 2 do plano e não concordou com a parte 3. "Um degrau abaixo do horror", conclui Gabriel Manzano Filho, "mas um degrau que mesmo assim permitia a entrega de dissidentes nas mãos de seus perseguidores e carrascos".
No dia 12 de novembro passado, a Câmara dos Deputados brasileira apresentou oficialmente suas desculpas ao povo uruguaio pela cumplicidade do país no seqüestro de Lílian e Universindo e prestou homenagem aos dois cidadãos uruguaios.
Confira a matéria original em formato PDF:
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