30/06/2009
- Por L&PM Editores
Prêmio de biografia da Ville d'Hossegor, França, 2007
Por que Paul Cézanne (1839-1906) tornou-se um dos maiores pintores de seu tempo? Essa pergunta dá início a premiada biografia escrita por Bernard Fauconnier, que apresenta aos leitores um relato preciso da vida deste artista controvertido que transformou e reinventou a pintura de forma drástica.
Cézanne foi o fundador da arte moderna, o grande mestre criador de novos caminhos para a arte do século XX. Para Pablo Picasso, ele foi "o pai de todos nós", pois sua obra não só modificou o modo de pintar de uma época, como de toda uma geração. Em Paris, mas especialmente na Provença, Cézanne perseguiu incansavelmente a harmonia da natureza – explorando em suas obras os matizes da cores, as nuances da luz e as diferentes perspectivas.
Leia um trecho do primeiro capítulo de Cézanne, biografia de Bernard Fauconnier:
Uma juventude
Por que ele? Por que esse filho de um filisteu e comerciante notório de Aix, um aluno tranquilo do Colégio Bourbon que, segundo as normas acadêmicas da Escola de Desenho gratuita de Aix-en-Provence, era um aprendiz com dotes medíocres? Por que esse rapaz tímido e selvagem, de modos rudes, esse burguês que descobriu tardiamente os cheiros dos incensos da igreja Saint-Jean-de-Malte e da catedral Saint-Sauveur, assim como os aspectos tranquilizadores de um catolicismo temente a Deus? Por que esse urso avesso aos ardores da paixão amorosa, esse homem que vivia de renda, que tinha ideias políticas bastante reacionárias (ao contrário de seu amigo Émile Zola), tornou-se o herói da arte moderna e o maior pintor de seu tempo? Ele transformou a pintura de forma drástica, reinventou-a e preparou o trabalho dos seus sucessores para pelo menos um século. Picasso não falava dele sem um tremor na voz. Cézanne, o patrão. O mistério Cézanne, que seus contemporâneos não entenderam, e menos ainda seus compatriotas de Aix-en-Provence, permeava esse burguês inchado de ignorância e arrogância que definhava em uma cidade adormecida ao redor das suas fontes, tão segura da sua beleza e dos seus encantos que se esquecia de viver. Mais tarde, a cidade recuperou o filho da terra que tanto desprezara: atualmente, as placas de cobre incrustadas nas calçadas com a efígie do pintor indicam os espaços Cézanne, um liceu Cézanne e os itinerários Cézanne. O louco, o possesso, o filho do banqueiro tornou-se a glória da cidade, que se sente muito bem com isso, tanto que, no final da avenida Cours Mirabeau, a placa semiapagada da chapelaria do Cézanne pai ainda pode ser vista no alto da parede de uma loja de artigos de couro.
O mistério Cézanne começou a chamar a atenção nos anos após sua morte. A partir de então, ele não parou de habitar o mundo da arte, e suas telas espalharam-se por todos os museus do mundo. O mistério Cézanne é uma história de formas, isto é, de uma rivalidade com o mundo ou com Deus. Cézanne foi um desses artistas atípicos da modernidade, obrigados a alterar sua arte porque eram incapazes de respeitar os modelos acadêmicos por opção, por desafio e por temperamento. Cézanne reinventou a pintura porque as formas antigas, que ele respeitava acima de quaisquer outras, eram-lhe inacessíveis. Ele não era nem um bom pintor, nem um bom desenhista. Ele era Cézanne. Não tinha o virtuosismo de Rafael ou de Picasso e, para ser absolutamente ele mesmo, ou, como dizia Rimbaud, absolutamente moderno, precisou arrancar tudo da matéria e da natureza. Foi o que o salvou.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Leia nossa política de privacidade