"Cada livro de Kerouac é um único e telepático diamante."
Allen Ginsberg
Tristessa é uma junkie decaída, viciada em morfina, que vive na Cidade do México, e por ela se apaixona Jack, o protagonista deste romance, um poeta norte-americano. Publicado pela primeira vez em 1960 e baseado em fatos autobiográficos (em 1955 Kerouac apaixonou-se por uma prostituta índia chamada Esperanza), Tristessa é um belo exemplo da prosa poética do autor. O narrador do livro é todo compaixão ao descrever a sórdida vida de Tristessa, sua inocência corrompida e a peregrinação dos dois e de seus amigos (entre eles Allen Ginsberg) pelo submundo da capital mexicana. Um romance triste, de linguagem pulsante, cheio de ensinamentos budistas e repleto de compaixão pelo sofrimento humano.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Leia nossa política de privacidade
Opinião do Leitor
Raphael Cruz
Fortaleza/Ceará
Tristessa é uma narrativa poética em primeira pessoa acerca da paixão semi declarada do escritor Jack pela prostituta Tristessa e estruturada no ritmo das idas e vindas dos dois em busca de drogas e amor. Pode não ser uma história de amor, mas é com certeza uma história sobre amor.
A trama se passa na Cidade do México dos anos 1950, mais precisamente em sua periferia e bocas de fumo, nos bairros populares precários sem saneamento habitados pela classe trabalhadora, mas também pelo lumpemproletariado, prostitutas e vagabundos. Tristessa, assim como outros livros de Kerouac é baseado na vida do autor mesclando elementos biográficos e ficcionais. A novela possui cinco personagens, as prostitutas Cruz e Tristessa, os viciados El índio e Old Bull e o narrador, o próprio Jack. Se livros como On The Road ou Dharma Bums são ambientadas em estradas, ferrovias e montanhas, a novela poética Tristessa se passa, na maior parte do tempo, em sujos ambientes de quatro paredes habitados por viciados em busca de uma dose. Toda a novela é impregnada por um clima junk de chapação, drogas, alcoolismo, embriaguez, desorientação mental, enjoo e vomito, numa narrativa frenética marcada por espanholismos e uma construção literária entre a prosa e a poesia que em certos trechos lhe fazem lembrar o poema Uivo de Allen Gisnberg.
Nesta novela estão presentes os elementos costumeiros da escrita de Kerouac como o cristianismo e sua aproximação com o budismo; a junção entre profano e sagrado representado por Tristessa, uma prostituta viciada católica praticante; diálogos semifilosóficos e semirreligiosos que desembocam na criação de alguma máxima zen budista do tipo “nascidos para morrer”; a presença de amigos do autor como personagens semi-biográficos, neste caso William Burroughs como Old Bull. Tudo isso embalado por citações de músicas de Frank Sinatra.
Como dito no início do texto, essa pode não ser uma história de amor clássica, mas é uma história sobre amor, um amor ainda de nossos tempos, um amor forte por uma figura frágil como Tristessa que você deve ter cuidado para não cortar os dedos ao tentar agarrá-la e quebrá-la como um copo sujo de uísque barato.
Raphael Cruz
14/02/2012