Fedra. Já se disse tudo sobre ela nestes últimos três séculos (e muito mais se dirá): é a tragédia erótica de uma família sexo-orientada. Fedra, esposa de Teseu, é irmã de Ariadne (a do labirinto) que já foi apaixonada por Teseu e, abandonada por este num rochedo, que maldade!, se casou com Baco, logo com quem! Ambas, Fedra e Ariadne, são filhas de Pasifaé, aquela senhora que se apaixonou por um touro, ora!, ora, e mandou ver, dando à luz o Minotauro. Teseu, o marido de Fedra, antes de casar com esta, conquistou Antíope, rainha das Amazonas, além da já citada Ariadne, depois ganhou Helena – aquela mesma, de Tróia – no jogo e teve uma filha com ela. Alguns eruditos discordam dessa versão porque Helena tinha então apenas nove anos, mas se esquecem de que Helena era muito pós-helênica. Nesta tragédia, Fedra, filha do sol, é prisioneira das trevas de um amor absolutamente proibido – ama Hipólito, seu enteado –, foge da luz do dia e se debate entre a loucura, a exaltação, a inveja, o ódio, a autopunição e a vergonha pública. Mas, ao fim e ao cabo, penso que a história de Fedra é mais do que um amor tabu que luta contra a proibição moral e social. É a história paleontológica do próprio incesto, cuja explicação só encontro na origem da linguagem humana. Inventadas as palavras (entre elas pai, mãe, filho, filha, irmã) estava automaticamente inventado o incesto. E aqui começa esta tragédia.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Leia nossa política de privacidade
Opinião do Leitor
Seja o primeiro a opinar sobre este livro