Um sonho americano conta, na primeira pessoa, a história de Stephen Rojack, um herói de guerra condecorado, ex-congressista e um respeitado intelectual que tem seu próprio programa de televisão. Stephen é casado com uma bela e rica mulher da alta sociedade, Deborah. A vida de aparências que ambos levam esconde, na verdade, um casamento fracassado.

Em um dia qualquer, sem razão aparente, uma discussão corriqueira – cheia de acusações e ressentimentos – termina fatidicamente: tomado pela fúria, Stephen estrangula a mulher e depois a joga pela janela de um bonito apartamento nova-iorquino, tentando forjar um suicídio. Esse ato não-planejado terá conseqüências imediatas na vida de Stephen que, de representante ideal do “sonho americano” é catapultado num mundo marginal de ruelas escuras, gângsteres e policiais corruptos.

Um dos mais controversos jornalistas do século XX, Norman Mailer chocou a sociedade americana com este romance de 1965, apenas alguns anos antes de ganhar seu primeiro Pulitzer. Mas o que há de tão chocante em Um sonho americano? O palpite de Paulo Francis, autor do prefácio, é de que Mailer, mais do que um escritor, é um estudioso da sociedade, que escreve como ninguém sobre a obsessão americana por sexo e violência.

Mailer causou profundo impacto ao retratar o fracasso do homem frente ao poderio do país mais influente do mundo, que pode ser uma potência econômica, mas que não oferece oportunidades concretas de êxito para seus cidadãos, criando uma legião de frustrados e losers. O autor desconstrói o sonho americano abusando de cenas brutais e descrições por vezes escatológicas, mergulhando seu personagem em situações-limite e oferecendo-lhe, inclusive, a tentativa de suicídio como saída para esse cotidiano nauseante.