Quando você começou a sentir ciúmes, a dizer que eu tinha dono, a me chamar de “tua”, a vigiar meus passos, a fazer perguntas demais, a regular o tamanho do meu vestido, confesso que gostei. [...]
E mais: senti um alívio. Eu tenho muita vergonha de admitir isso, mas é verdade. Eu tinha medo de que esse tipo de relação nunca acontecesse comigo: um namoro em que me sentisse não só desejada, mas amada, cuidada e protegida.
É horrível admitir, mas o jeito doente com que você me tratou fez com que eu me sentisse finalmente amada.
O ciúme. O controle. Os rompantes. O zigue-zague atordoante de uma relação que nunca mais foi tranquila. Sempre aos solavancos. Sempre à mercê da explosão da tua desconfiança.
E eu achei que era amor.
Clara, a protagonista deste romance e alter ego da autora, é protegida por diversas camadas sociais: é branca, de classe média alta, com formação universitária, criada por uma família estruturada e amorosa, que apoia sua carreira artística.
Do alto de seus privilégios, ela e suas amigas curtem a vida ao máximo – ou ao máximo do que é permitido para jovens mulheres urbanas e escolarizadas nos dias de hoje. Feministas inveteradas que são, dão duro na carreira, amam a boemia e são donas de seus corpos, do qual usufruem como bem entendem.
Mas um maníaco está solto pela cidade, espalhando o horror ao atacar jovens desacompanhadas jogando ácido em seus rostos. Os ataques em série saltam das páginas policiais para a capa dos jornais locais – e trazem à tona o sentimento ancestral que as mulheres tentam sufocar diariamente para poderem viver: o medo de estar à mercê dos homens.
Em meio às delícias da independência e da sororidade, as amigas desbravam a vida adulta, havendo-se com as pequenas violências cotidianas da melhor forma que podem. Será que sabem que há coisas das quais nunca estarão a salvo?
Os Editores
Clara Corleone nasceu em Porto Alegre. É atriz (formada pela UFRGS), escritora e professora de escrita criativa. Publicou o livro de crônicas O homem infelizmente tem que acabar (Zouk, 2019), que recebeu o prêmio Minuano de Literatura, do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, e o romance Porque era ela, porque era eu (2021), vencedor do Prêmio Jacarandá, categoria autor revelação.
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Opinião do Leitor
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