Vida & Obra


Molière

Jean-Baptiste Poquelin nasceu em Paris, em 1622. Filho de um vendedor de tapetes, perdeu a mãe muito cedo, aos dez anos. Recebeu uma sólida educação jesuítica e estudou para se tornar advogado. Travou conhecimento com Tiberio Fiorelli, conhecido como Scaramouche, um famoso comediante francês da época, e com a atriz Madeleine Béjart, o que o levou a renunciar à carreira jurídica e se dedicar ao teatro. Com Madeleine e outra dezena de comediantes, fundou a companhia L’Illustre Thêatre, em 1643. O início da trupe foi desastroso, e Jean-Baptiste, que agora se apresentava como Molière, acabou sendo preso por dívidas, em 1645. Mas alguns dos membros da companhia permaneceram fiéis a Molière e com ele deixaram Paris para excursionar pelo interior da França.

Aos poucos se conseguiu estabelecer relações de mecenato com nobres importantes, o que garantia a vida financeira do grupo. A apresentação da primeira peça de Molière, L’Étourdi (O surpreso) aconteceu em Lyon, em 1655. Após alguns anos de peregrinação e aprendizagem, a trupe voltou a Paris e, em 1658, apresentou ao rei a peça Nicomède, do dramaturgo clássico Pierre Corneille, assim como a farsa Docteur amoureux (Doutor apaixonado), tendo esta última obtido enorme êxito. O irmão do rei Louis XVI tomou a companhia teatral sob sua proteção e, em 1659, a apresentação da peça Précieuses ridicules (Preciosas ridículas) tornou Molière famoso e adorado na capital.

O grupo se instalou no teatro Palais-Royal (atual Comédie Française), onde representava suas peças. Em 1662, casado com Armande Béjart, Molière experimentou novo sucesso, com Escola de mulheres, que suscitou a inveja de seus adversários e a hostilidade dos mais devotos. Molière respondeu a essas críticas através do texto de outras peças, prática que se tornaria comum em sua obra. Em 1664, alguns dias após a morte de um filho que não chegou a viver mais que alguns meses e de quem o próprio Rei Sol era padrinho, Molière apresentou algumas peças, entre as quais Tartufo. Antes que se chegasse ao término da apresentação, a companhia teatral de Saint-Sacrement, apoiada pela rainha-mãe, obteve a interdição da peça (que viria a ser considerada por muitos a sua obra-prima).

Molière compôs então Don Juan (1665), que permaneceu por pouco tempo em cartaz. A comédia L’amour (O amor), de sua autoria, fez com que o comediante caísse novamente nas graças do rei, que lhe concedeu uma pensão. O autor escreveu, então, O misantropo, Le médecin malgré lui e outras peças. A apresentação de O impostor, versão atenuada de O tartufo, causou nova proibição, inclusive por parte do arcebispo de Paris. A seguir, L’amphitryon (O anfitrião)foi bem recebida, mas, em 1668, O avarento (uma das peças de Molière mais representadas e lidas até hoje) foi um fracasso. Finalmente, com a morte da rainha-mãe, Tartufo pôde ser encenada, em 1669, obtendo estrondoso sucesso. Animado, Molière com­pôs novas comédias para as festas da corte, entre as quais O burguês ridículo (1670). No ano seguinte, escreveu uma peça experimental chamada Psyché em co-autoria com Corneille. Neste mesmo ano, apresentou ao público Les fourberies de Scapin (As artimanhas de Scapin), que foi mediocremente acolhida, embora tenha passado à história da literatura como a mais representativa das farsas de Molière ao estilo italiano. Em 1672, a trupe apresentou As eruditas, a comédia de costumes na qual vinha trabalhando desde 1668.

Reconciliado com Armande, o comediante experimentou novamente a paternidade, mas de novo apenas por um breve período: a criança morreu após um mês de vida. Foi por essa época que intrigas palacianas privaram-no dos favores reais. Sua última comédia, O doente imaginário, não foi apresentada à corte. A morte de Molière, em 17 de fevereiro de 1673, apenas algumas horas após atuar na quarta apresentação da peça, foi seguida de um enterro noturno e quase clandestino – ao longo de sua vida e sobretudo em cima do palco ele havia granjeado vários inimigos. Ele tinha 51 anos de idade e escre­vera 30 peças teatrais.

Fazendo as vezes de autor, ator e diretor da sua companhia, Molière foi responsável pela popularidade da comédia no teatro moderno. Expandiu a utilização dos recursos cênicos e, embora fosse um diretor perfeccionista, ensinou aos seus atores como lançar mão da naturalidade para enriquecer a atuação, resultando daí um teatro menos distanciado do espectador – e da linguagem deste, uma vez que Molière brincava com o texto e utilizava expressões coloquiais, ao contrário do que acontecia no teatro clássico. Tal sede de verdade também aparece na composição dos personagens, nos quais são mostrados as contradições e o ridículo da natureza humana. Construiu tipos de apelo popular, como o devoto, o nobre, o pedante, o emergente, e desmascarou-os, sem clemência mas com muito humor. Em um formato cômico, acessível e irresis­tível ao grande público como à sisuda nobreza, Molière pôs em pauta temas espinhosos, como o anticlericalismo, e atingiu um grau de reflexão nor­malmente só presente no teatro trágico.

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