Notícias


Conheça a biografia do escritor Naguib Mahfuz, autor de O ladrão e os cães

29/01/2008

- Por L&PM Editores

Naguib Mahfuz (1911-2006) nasceu no Cairo, Egito. Tinha sete anos quando da Revolução Egípcia de 1919, contra o domínio inglês. O escritor diria que a sublevação foi o acontecimento que mais abalou a segurança da sua infância. Desde jovem leu autores da literatura universal, sobretudo os clássicos russos, histórias de detetives e escritores modernistas como Proust, Kafka e Joyce. Graduou-se em filosofia na Universidade do Cairo, em 1934. Dois anos depois, decidiu dedicar a carreira à escrita. Trabalhou como jornalista em alguns veículos da imprensa egípcia e teve vários cargos como funcionário público civil, entre os quais diretor do departamento encarregado da censura das obras de arte, diretor da Fundação de Apoio ao Cinema e, finalmente, consultor do Ministério da Cultura. Muitos de seus romances foram primeiramente publicados em jornais, em formato de folhetim. Foi o primeiro e único escritor de língua árabe a receber o prêmio Nobel de Literatura (1988), e a partir de então sua obra se tornou conhecida no Ocidente. Ao longo da sua vida, várias vezes emitiu opiniões políticas polêmicas, e esteve na lista negra dos fundamentalistas islâmicos. Em 1989, quando o aiatolá Khomeini declarou o escritor Salman Rushdie e seus editores como inimigos do Islã, Mahfuz chamou o líder iraniano de "terrorista". O escritor e outras dezenas de intelectuais árabes declararam que "nenhuma blasfêmia atinge tanto o Islã quanto o apelo ao assassinato de um escritor". Seguiram-se inúmeras ameaças de morte. Mesmo sob proteção policial, em 1994 extremistas islâmicos apunhalaram no pescoço o escritor, então com 82 anos, próximo à sua casa no Cairo. Mahfuz sobreviveu, ainda que com dano permanente na mão direita.

No princípio de sua carreira, sob inspiração de Walter Scott, Mahfuz queria recontar a longa história do Egito em trinta romances históricos, dos quais nem todos foram escritos. Logo tomou-se de interesse pelo presente, e pelo efeito das mudanças sociais nas pessoas, sobretudo nos moradores dos bairros populares do Cairo, nos quais passou a infância e a juventude. Entre suas obras mais conhecidas está a monumental Trilogia do Cairo (1956-1957), um total de 1.500 páginas que foi comparado a obras de Balzac, Dickens e Tolstói. Após terminar a trilogia, Mahfuz parou de escrever. Em 1959, desapontado com o governo Nasser, que derrubara a monarquia em 1952, voltou à escrita, praticando vários gêneros. Por tratar de temas considerados tabu na sociedade egípcia, como deus, socialismo, judaísmo, cristandade, vários de seus livros foram banidos e proibidos.

A obra de Mahfuz, toda escrita em árabe, propõe um painel das transformações por que passou a sociedade egípcia no século XX, com especial destaque para personagens comuns, que se debatem para sobreviver à mudança dos tempos, à modernização e à tentação dos valores do Ocidente. Do ponto de vista filosófico, seus textos foram influenciados pelo Existencialismo. Em mais de 70 anos de carreira, escreveu 34 romances, centenas de histórias, vários roteiros para filmes e cinco peças teatrais. Foi enterrado no Cairo, com honras de Estado.