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Raymond Chandler por Anonymus Gourmet

05/07/2009

- Por Anonymus Gourmet

A boa notícia é que Raymond Chandler está de volta, em lindas edições da L&PM, comemorativas aos 70 anos do primeiro romance do escritor, O sono eterno. O projeto gráfico, do designer Steven Marking, foi inspirado nas capas da literatura policial barata das décadas de 1940 e 1950, quando Chandler publicou a maior parte de sua obra. Os personagens cínicos e contraditórios, entre eles o inigualável detetive Philip Marlowe, freqüentavam mansões de Bervely Hills e sórdidos bares da periferia investigando mulheres perdidas, maridos traídos e gangsters implacáveis, a 25 dólares por dia. Na revista Oitenta publicamos o lendário texto sobre a melhor hora de freqüentar um bar: “O primeiro gole tranqüilo da noite, num bar silencioso, é magnífico”, escreveu o grande escritor. Nos anos 70 acreditávamos em tipos durões que perderam as esperanças:

"Gosto de bares logo que abrem, ao entardecer. Quando o ar ainda está fresco e puro, tudo está brilhando, e o garçom dá uma úl­tima olhada no espelho para ver se a gravata está reta e se o cabelo não está em desalinho. Gosto das garrafas arrumadas nas prateleiras, do adorável reflexo dos copos limpos e do ambiente de expectativa. Gosto de ver o garçom preparar o primeiro drinque da noite e colocá-lo num copo transparente acompanhado de um pequeno guardanapo dobrado. Gosto de saboreá-lo vagarosamente. O primeiro gole tranqüilo da noite, num bar silencioso, é magnífico."

Eu concordei.

"O álcool é como o amor", ele disse. "O primeiro beijo é mági­co, o segundo sugestivo, o terceiro já é rotina. Depois disso você tira a roupa da moça."

"Isso é mau?", perguntei.

"É extremamente excitante, mas é uma emoção impura. Impura no sentido estético. Sexo não me causa repulsa. É necessário e não tem que ser desagradável. Quando fascinante, bem feito, é uma indústria de bilhões de dólares e vale mesmo cada centavo."

Ele olhou em volta e bocejou.

"Não tenho dormido bem. Aqui é agradável. Mas depois de al­gum tempo a luxúria toma conta, chegam aquelas mulheres e ocu­pam todos os lugares, gesticulam, fazem caretas, dão risadas e falam alto, tilintando suas pulseiras baratas, com charme fa­bricado que, mais tarde, terá um suave, mas inconfundível, odor de suor."

"Vá com calma", eu disse. "Elas são humanas, suam, ficam su­jas, têm de ir ao banheiro... O que você esperava? Borboletas doura­das num entardecer rosado?"